Castro diz que governo federal recusou ajudar em operações no Rio: ‘Tivemos pedidos negados 3 vezes, cada dia uma razão’
28/10/2025
(Foto: Reprodução) Governador Claudio Castro comenta impasse com Governo Federal sobre operação mais letal da história do Rio
O governador Cláudio Castro (PL) afirmou nesta terça-feira (28) que, anteriormente, o governo federal negou ajuda para operações policiais no RJ e que, por isso, o estado “estava sozinho” na ação desta manhã nos complexos do Alemão e da Penha. Ao menos 60 pessoas foram mortas em violentos tiroteios.
“Tivemos pedidos negados 3 vezes: para emprestar o blindado, tinha que ter GLO, e o presidente [Lula] é contra a GLO. Cada dia uma razão para não estar colaborando”, reclamou Castro.
🔎A Garantia da Lei e da Ordem (GLO) é uma operação prevista na Constituição que autoriza o uso das Forças Armadas em ações de segurança pública em situações excepcionais, quando há esgotamento das forças policiais estaduais. Nesses casos, Exército, Marinha e Aeronáutica passam a atuar com poder de polícia, de forma temporária e sob comando do presidente da República, para restabelecer a ordem e proteger pessoas e patrimônios.
A TV Globo teve acesso a ofícios enviados pelo governo estadual ao federal, em 28 de janeiro e que não foram atendidos (veja na imagem abaixo). Nos documentos, o governador e o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, pedem veículos blindados à Marinha e ao Exército.
Ofício enviado por Castro, em janeiro, pedindo ajuda ao governo federal
Reprodução
O governador afirmou ainda que a operação desta terça “tem muito pouco a ver com segurança pública”, que a "guerra que está passando dos limites" e cobrou apoio do governo Lula.
"É uma operação de defesa. É um estado de defesa [...] não é mais só responsabilidade do estado. O estado está fazendo a sua parte, sim, mas quando se fala em exceder, exceder inclusive as nossas competências, já era para estar tendo um trabalho de integração muito maior com as Forças Federais, o que nesse momento não está acontecendo”.
No fim da tarde, o governador voltou a se pronunciar e disse que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, telefonou para ele e se colocou à disposição para ajudar.
"Ficamos de nos falar ao fim da noite para entender os passos de amanhã. Eu não acredito que segurança se faz politizando. Então, qualquer ajuda que o Governo Federal quiser dar dentro do que a gente necessita será bem-vinda. Hoje, a noite não tem fim aqui no Palácio Guanabara", afirmou Claudio Castro
Castro diz que confrontos em megaoperação acontecem em regiões de mata do Alemão e Penha
O que diz o governo federal
O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que mantém atuação no Rio de Janeiro desde outubro de 2023, por meio da Operação Nacional de Segurança Pública, que segue vigente até 16 de dezembro de 2025, com possibilidade de renovação.
Em nota, o ministério afirmou que tem atendido prontamente a todos os pedidos do governo do estado para o emprego da Força Nacional. Disse ainda que a Polícia Federal realizou 178 operações no Rio neste ano, sendo 24 delas voltadas ao combate ao tráfico de drogas e armas.
O texto destaca também que a Polícia Rodoviária Federal tem promovido ações contra roubos de cargas e de veículos nas rodovias federais. Segundo o ministério, o estado do Rio tem recebido recursos federais para investimento no sistema penitenciário e na segurança pública, além de doações de equipamentos.
A pasta listou uma série de acordos e parcerias de cooperação com o governo fluminense voltados ao enfrentamento do crime organizado, e reafirmou o compromisso do governo federal com o Rio de Janeiro na promoção da segurança pública por meio de apoio integrado (veja a íntegra no fim da reportagem).
'Maior da história'
Segundo Castro, a operação desta terça é “a maior da história do Rio de Janeiro”.
“Estamos sozinhos nessa luta hoje. É uma operação maior que a de 2010 e, infelizmente, desta vez, como ao longo deste mandato inteiro, não temos o auxílio de blindados nem agentes das forças federais de segurança e defesa.”
Por isso, segundo o governador, “não foram pedidas forças federais desta vez”. Castro negou que a cobrança seja pautada por uma briga política e afirma que é um pedido de ajuda.
Infográfico - Polícia faz megaoperação no Rio de Janeiro contra facção.
Arte/g1
“O Rio de Janeiro não produz essas armas, essas drogas, esse poder bélico está sendo financiado com lavagem de dinheiro. Tudo que o estado pode fazer está sendo feito”, destacou.
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Cláudio Castro ao lado dos secretários de Polícia Civil e Polícia Militar em entrevista coletiva realizada na manhã desta terça-feira (28)
Reprodução/ TV Globo
‘ADPF foi observada’
Castro afirmou que a ação cumpriu as regras da ADPF 635, que define regras para as ações em comunidades, e destacou que o Ministério Público acompanha o avanço das tropas.
“Todas as regras da ADPF foram cumpridas, inclusive com a participação do Ministério Público. Acabei de falar com o procurador-geral de Justiça, que está em Brasília, mas está acompanhando tudo”, afirmou o governador, referindo-se a Antonio José Campos Moreira.
Castro disse que os confrontos desta terça ocorreram, principalmente, em áreas de mata.
“Os confrontos estão acontecendo, e não vou dizer 100% porque pode ter acontecido um ou outro, mas majoritariamente em área de mata. Foi pensado para encurralá-los lá para que a população sentisse o mínimo possível”, disse o governador em coletiva de imprensa.
Segundo Castro, nos locais onde há vegetação a população sente menos os “efeitos colaterais” dos confrontos.
"As nossas forças de segurança que planejaram isso e, rapidamente, foram para áreas de mata onde a população não teria os efeitos colaterais, que apesar do nome, são as vidas das pessoas", afirmou.
Uma quantidade de drogas ainda não contabilizada também foi apreendida.
A operação
Em megaoperação no Alemão e na Penha, polícias tentam prender 100 do Comando Vermelho
Esta é mais uma etapa da Operação Contenção, uma iniciativa permanente do governo do estado de combate ao avanço da facção por territórios fluminenses. Veja aqui os impactos à população nesta terça.
Desta vez, as equipes foram para os complexos do Alemão e da Penha, um conjunto de 26 comunidades na Zona Norte do Rio de Janeiro — e onde, segundo as investigações, se refugiam chefes do CV do RJ e de outros estados.
Traficantes reagiram a tiros e com barricadas em chamas — dezenas de colunas de fumaça podiam ser vistas de diversos pontos da cidade. A Polícia Civil afirmou ainda que, em retaliação, criminosos lançaram bombas com drones.
Outros fugiram em fila indiana pela parte alta da comunidade, em uma cena semelhante à disparada de bandidos em 2010, quando da ocupação do Alemão.
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Operador do CV preso
Entre os presos está Nicolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro de um dos chefes do CV, Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso.
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, afirmou que a operação foi desenhada com antecedência e não contou com apoio do governo federal.
"Toda essa logística é do próprio estado. São aproximadamente 9 milhões de metros quadrados de desordem no Rio de Janeiro", disse.
Santos destacou que cerca de 280 mil pessoas vivem nas áreas afetadas pela operação. “Essa é a realidade. Lamentamos profundamente as pessoas feridas, mas essa é uma ação necessária, planejada, com inteligência, e que vai continuar”, afirmou o secretário.
Veja a íntegra da nota do Ministério da Justiça:
"Em cooperação com o Rio de Janeiro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) mantém atuação no Estado desde outubro de 2023, por meio da Força Nacional de Segurança Pública, conforme previsto na Portaria MJSP nº 766, de 12 de dezembro de 2023. A operação segue vigente até 16 de dezembro de 2025, podendo ser renovada.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública tem atendido, prontamente, a todos os pedidos do Governo do Estado do Rio de Janeiro para o emprego da Força Nacional no Estado, em apoio aos órgãos de segurança pública federal e estadual. Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação da FNSP no território fluminense. Todas acatadas.
No âmbito da Polícia Federal (PF), só em 2025, foram realizadas 178 operações no Estado do Rio de Janeiro, sendo 24 delas relacionadas a tráfico de drogas e armas. Ao todo, foram 210 prisões efetuadas, das quais 60 estão diretamente relacionadas a investigações sobre o tráfico de drogas e armas.
No mesmo período, foram apreendidas 10 toneladas de drogas e 190 armas de fogo, incluindo 17 fuzis. Além disso, foram apreendidas cerca de 600 peças e acessórios de armas de fogo, capazes de moldar cerca de 30 fuzis.
Esses números refletem o esforço contínuo da Polícia Federal no enfrentamento ao crime organizado e na redução do poder bélico das facções criminosas.
Entre 2024 e 2025 (até outubro), foram 855 mandados de prisão cumpridos, sendo 462 no ano de 2024 e 393 no ano de 2025.
Entre as ações de destaque, estão a Operação Forja, que desarticulou uma fábrica clandestina com capacidade de produção de 3.500 fuzis por ano, destinados a comunidades dominadas pela facção Comando Vermelho; as operações Buzz Bomb e Libertatis, deflagradas em 2024, que prenderam os operadores de drones das duas principais facções criminosas em atuação no Rio de Janeiro.
Além disso, a PF coordena duas operações conjuntas com as forças de segurança do estado, FICCO/RJ e Redentor, que reforçam o compromisso comum de enfrentar o crime organizado de forma coordenada e eficiente.
Também desde 2023, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem atuado no Estado em operações de combate a roubo de cargas e a roubos de veículos nas rodovias federais.
De janeiro de 2023 a outubro de 2025, foram:
- 3.082 veículos recuperados;
- 13.961 munições apreendidas;
- 172 armas curtas apreendidas;
- 72 fuzis apreendidos;
- 8.250 pessoas detidas;
- R$ 3.240.201,00 apreendidos (de origens ilícitas);
- 29.5 toneladas de maconha apreendidas;
- 3.9 toneladas de cocaína apreendidos;
- 73.990 unidades de drogas sintéticas.
Nos últimos anos, o Estado do Rio de Janeiro tem recebido recursos do governo federal para investir no sistema penitenciário e na segurança pública. Por meio do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), o estado recebeu mais de R$ 99 milhões entre 2016 e 2024 - valor que, com rendimentos, superou R$ 143 milhões. No entanto, apenas cerca de R$ 39 milhões foram efetivamente utilizados, restando mais de R$ 104 milhões ainda em conta.
Já pelo Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), o Rio de Janeiro recebeu quase R$ 288 milhões desde 2019, montante que, com rendimentos, alcançou R$ 331 milhões. Desse total, pouco mais de R$ 157 milhões foram executados até o momento, deixando um saldo superior a R$ 174 milhões disponíveis.
Além disso, o estado tem sido atendido com doações de equipamentos, como veículos, computadores, drones, coletes e munições, que somam aproximadamente R$ 10 milhões.
O MJSP informa ainda que, no âmbito da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), tem desenvolvido uma série de iniciativas com o Governo do Rio de Janeiro, como a integração do Estado à Rede Nacional de Unidades Especializadas de Enfrentamento das Organizações Criminosas (Renorcrim) e à Rede Nacional de Recuperação de Ativos de Facções Criminosas (Recupera).
Além disso, o MJSP e o Governo do Rio de Janeiro firmaram acordo de cooperação técnica para a criação da Célula Integrada de Localização e Captura de Foragidos, com foco na identificação, localização e prisão de criminosos de outras unidades da federação que se refugiam em comunidades fluminenses. A Célula realiza o cruzamento e análise de bancos de dados policiais e judiciais, a integração de mandados de prisão nacionais, com base na Lista dos Procurados do SUSP e na Matriz de Risco Nacional, e a coordenação de operações conjuntas de captura de criminosos prioritários.
O MJSP e o Governo do Rio de Janeiro também firmaram acordo para a criação do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (CIFRA), com foco na descapitalização das organizações criminosas, mediante inteligência financeira, recuperação de ativos e assessoramento especializado em investigações de lavagem de dinheiro. Até setembro de 2025, o CIFRA havia analisado 59 Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) emitidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), envolvendo operações com mais de R$ 65 bilhões em valores suspeitos, com 423 documentos produzidos e difundidos entre os anos de 2024 e 2025.
Ainda, em 5 de fevereiro deste ano, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, esteve no Ministério da Justiça e Segurança Pública para uma reunião com o ministro Ricardo Lewandowski. À ocasião, o ministro atendeu a um pedido do Estado e ofereceu dez vagas em presídios federais para alocar lideranças criminosas do Rio de Janeiro.
“A missão é a cooperação total entre União e o RJ. Estamos empenhados em combater o crime de forma cooperativa e integrada. Esse é mais um exemplo da integração federativa que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública pretende colocar em prática”, disse o ministro após o encontro.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública reafirma seu compromisso com o Estado do Rio de Janeiro, promovendo a segurança pública por meio do apoio integrado.
As ações coordenadas têm como objetivo fortalecer o combate ao crime organizado, reduzir índices de criminalidade e garantir maior sensação de segurança à população. Com investimentos significativos e esforços contínuos, o MJSP permanece empenhado em assegurar resultados efetivos e contribuir para a preservação da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro."