Carlos Nobre cobra aceleração na transição energética pós-COP 30: 'Belém será inabitável em 2070 se ainda houver uso de combustíveis fósseis'
02/12/2025
(Foto: Reprodução) Carlos Nobre, no Festival LED - Luz na Educação, em Belém.
Nay Jinknss / Festival LED
Em Belém, participando do Festival LED - Luz na Educação, o climatologista Carlos Nobre analisou nesta terça-feira (2) os resultados da COP 30, realizada em novembro na capital paraense. Ele destacou a urgência climática e a necessidade de avanços na COP 31, especialmente na desaceleração rápida do uso de combustíveis fósseis e do desmatamento.
"Todos nós esperávamos que esta seria a mais importante de todas as COPs, porque nunca o planeta desde que nós existimos esteve com risco que estamos agora de emergência climática", afirmou, alertando que, "se não houver redução rápida de emissões dos gases do efeito estufa, Belém será inabitável em 2070, com a temperatura global chegando a 2,7°C a 2,8°C - e na cidade chegando a 5ºC".
Ele criticou a falta de consenso sobre os mapas do caminho para zerar combustíveis fósseis e desmatamento, apesar das expectativas iniciais do presidente Lula. "Infelizmente a gente não aprovou os mapas do caminho para zerar os combustíveis fósseis e o desmatamento rapidamente", disse Nobre, explicando que as COPs avançam por consenso, não por maioria, o que bloqueou esses pontos cruciais.
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Avanços em adaptação e inclusão
Apesar das frustrações, Nobre apontou ganhos como a aprovação de 50 pontos de adaptação, criação do Comitê de Belém e um fundo de pelo menos US$ 300 bilhões anuais para populações vulneráveis.
"Foi também a primeira COP com grande número de indígenas. Foi a primeira COP que colocou no seu documento como nós temos que valorizar e proteger todos os afrodescendentes", destacou, elogiando a valorização do conhecimento tradicional pela primeira vez em 500 anos.
O "Pacote de Belém", aprovado por 195 países, incluiu esses itens, além de triplicar financiamentos para adaptação até 2035, embora os recursos imediatos fiquem abaixo da meta. Nobre viu otimismo na liderança brasileira contínua até novembro de 2026.
Desafio dos fósseis
Nobre enfatizou que 75% das emissões vêm de combustíveis fósseis, responsáveis por 7 milhões de mortes anuais por poluição urbana.
"Sem dúvida, o maior desafio é porque nós estamos numa emergência e 75% das emissões dos gases do efeito estufa são queima de combustíveis fósseis", declarou, defendendo o fim do uso até 2040, não ultrapassando 2045, apoiado por cientistas do Pavilhão de Ciência Planetária da COP 30.
Ele ainda citou a viabilidade econômica: "Os painéis solares hoje já são 1/4 do preço da energia termoelétrica, não geram poluentes, energia solar emprega 4 vezes mais pessoas que termoelétricas".
Ele mencionou a iniciativa da criação de painel científico para transição energética, proposto por Ana Toni, secretária executiva da COP 30; e lembrou das reuniões marcadas na Colômbia a fim de preparar relatório para COP 31.
Na próxima COP, sediada na Turquia/Austrália em 2026, Nobre aposta em avanços nos mapas do caminho. "O presidente da COP André Corrêa do Lago, a secretária executiva Ana Toni, eles estão muito motivados [...] e eles querem levar muito essa discussão agora sem parar pra que toda a preparação para a COP 31 [...] ela realmente seja para o que a COP 30 não foi", projetou.
Ele também defendeu a continuidade da presença de indígenas, quilombolas e jovens. "É importante que também na COP 31 em diante todos os povos indígenas, de comunidades locais estejam presentes porque isso marcou muito bem essa COP".